Reflexão sobre o livro “Recados do Além”

Contrastes, desigualdades, perdas, preocupações chegam-nos frequentemente através dos meios de comunicação quase que como uma característica de nossos dias…
Sabemos, contudo, que apesar do caos aparente Deus está no controle pois nada ocorre fora de suas leis, sem sua permissão.
Permaneçamos, assim, confiantes, agindo no bem.

(Reflexão baseada no livro “Recados do Além”, Chico Xavier/Emmanuel, Cap 1)

Danilo Villela

Presidente da Cruzada dos Militares Espiritas

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Imortalidade

O comportamento dos apóstolos apresenta sensível diferença depois de seu encontro e convívio com o mestre em seguida à sua morte na cruz. A insegurança e as vacilações desaparecem ante a certeza da vida espiritual e eles se tornam fortes e corajosos, capazes de enfrentar as difíceis experiências que os aguardavam.
Na doutrina espírita, o mundo espiritual deixa de ser uma questão de crença passando à condição de fato capaz de influenciar nossas ações.

(Reflexão baseada no livro “Recados do Além”, Chico Xavier/Emmanuel, Cap 28)

Danilo Villela

Presidente da Cruzada dos Militares Espiritas

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O olhar que vem do coração

“Se o vosso olho é motivo de escândalo, arrancai-o e lançai-o longe de vós; melhor para vós será entrardes na vida tendo um só olho, do que terdes dois e serdes precipitados no fogo do inferno”.

                                                                   Matheus 5:29 a 30

Quem nunca observou o que os olhos de seu interlocutor expressavam? Quantas pessoas já passaram em nossas vidas com olhares diversos, que refletiram em nós, promovendo comunicação silenciosa?

Os nossos olhos são de extrema importância em nosso trajeto de vida e é por meio deles que descortinamos sentimentos e emoções.

O homem quando encarnado necessita da iluminação exterior para observar; diferentemente, a faculdade de ver (perceber) do espírito constitui um atributo próprio que independe de qualquer agente externo; ele vê (percebe) por sua própria iluminação. Se há pouca luz interior no indivíduo, pouca percepção visual haverá quando espírito em liberdade. Esta é a razão do uso da expressão: “espírito de luz” ou “espírito de pouca luz”.

Muito do que realmente somos e daquilo que trazemos em nossos corações estão expressos em nossos olhos. Eles representam a porta que traduz nossos sentimentos. Você pensa que está escondendo determinada emoção, porém seus olhos fazem transparecer o que por dentro você sente e é. É pelos olhos que nossas almas se tornam despidas. As pessoas, de maneira geral, umas mais outras menos, são capazes de fazer uma leitura do que os olhos dizem, falam ou expressam; os “olhos são o espelho da alma”. Dizem tudo, sem a necessidade de gesticular ou articular palavras, fazem o que mãos ou fala deixam de fazer. Expressam a verdade que vai no coração.

 É possível constatar:

– Olhos de Reprovação e de Aprovação; famílias educam seus filhos pelo olhar. 

– Olhos de Acusação; o olhar infalível como a flecha disparada por um arco.

– Olhos de Arrependimento, de Remorso, de Culpa; como “se o mundo tivesse caído”.

– Olhos de Ressentimento, de Mágoa; aqueles carregados de rancor e aflição.

– Olhos de Inveja; os que arremessam “dardos de inveja”.

– Olhos de Ambição e de Cobiça; o “olho grande” que murcha flores e provoca quebranto.

– Olhos de Honestidade e Nobreza de Atitude; olhos de sinceridade e de integridade.

– Olhos de Ternura, de Misericórdia; que contrasta com olhos de ódio, de raiva.

Enfim, em cada sentimento, emoção, impulso equivocado ou manifestação virtuosa, um olhar denuncia o coração.

Na caserna, constata-se o olhar do chefe militar que reconhece o bom ou o mau assessoramento do subordinado, como o gesto do olhar do subordinado que respeita o superior, até mesmo discordando dele.

Quem nunca percebeu de seu interlocutor a mensagem que trazia em seu olhar?

Há, ainda, o olhar sentido, com lágrimas que choram tristeza, alegria ou perda …. Como também há o olhar com “lágrimas de crocodilo”, que representa o choro fingido, enganador, muitas vezes, enganador de si mesmo.

Pessoas existem que só têm olhos para enxergar o lado mau e errado de tudo. Costumam ser aqueles que reclamam e se queixam de tudo e de todos. Têm o hábito de analisar sempre pela visão do mal e por aquela que vem a atender aos seus interesses, muitas vezes inferiores.

Outras se comprazem em acessar o noticiário violento, como para dizer que a matéria que seus olhos leem não está acontecendo consigo. Identificam na paisagem que se vê o que há de pior. Parece que veem fora o que há dentro de si, projetando sua sombra em seus interlocutores.

Há outras mais que nas caminhadas e passeios, caso enxerguem ao seu lado uma irmã de jornada humana, premeditam, quase sempre, a organização de laços menos dignos.  E deixam de ver quem está jogado nas calçadas das ruas pedindo esmola. Isso, por certo, os incomoda. Pelo menos poderiam deixar um olhar de caridade. Mas nem isso acontece.

Com olhos de maldade, o indivíduo se acostuma a acompanhar a vizinhança pela janela de sua moradia, preenchendo seu tempo em tomar conta da vida dos outros.

Podemos dizer que nossas qualidades anímicas expressam-se pelos nossos gestos e, de forma aguda pelo nosso olhar. Dão-nos a conhecer pela simplicidade ou pela má índole com que olhamos e consideramos os outros, as coisas e os fatos. Não é necessário palavras para nos fazer entender. Você pode agredir pelos olhos. Seus olhos podem externar a caridade que vai no seu coração, sem necessidade de palavras. Basta o olhar.

É importante que aprendamos a ver o bem em todos e em toda parte, para que o bem se manifeste e cresça em nossas vidas. Necessitamos entrar em sintonia com o Universo, onde só existe amor e bondade, onde tudo obedece para uma finalidade justa, útil e necessária.

Quando falamos do olhar e da luz que precisamos para enxergar nosso itinerário, não podemos esquecer que nossa necessidade é a da conquista da luz própria, de esclarecimento íntimo, de autoeducação, de conversão substancial do “eu” ao reino de Deus.

por José Lucas de Silva Cruzado 6294

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165 anos da obra “O Livro dos Espíritos”

Em 18 de Abril de 1857 ocorreu o surgimento do Espiritismo aos seres humanos através da obra de Allan Kardec, o Codificador do Espiritismo em seu livro.

165 anos de “O Livro dos Espíritos”

“Se me amais, guardai os meus mandamentos; e eu rogarei a meu Pai e ele vos enviará outro Consolador, a fim de que fique eternamente convosco: – O Espírito de Verdade, que o mundo não pode receber, porque o não vê e absolutamente o não conhece.”

Jesus

No final do ano de 1856, Hippolyte Léon Denizard Rivail entregou os originais de “O livro dos espíritos”, que deram origem a uma brochura de 180 páginas, a Madame Mélanie, da Editora Dentu.

A revista “O Reformador“, de abril de 2022, destaca o breve diálogo ocorrido entre Madame Dentu e o professor Rivail:

– “Trouxe afinal seus cadernos, Professor?” […]

– “É uma honra para nós editar seu livro.”

Em 18 de abril de 1857, os primeiros 1.200 exemplares chegaram à Livraria Dentu, com 501 perguntas criteriosamente formuladas por Kardec e respondidas pelos Espíritos, com a colaboração de diversos médiuns, em diferentes locais.

Na segunda edição encontram-se 1018 questões, sendo que as edições atuais totalizam 1019, acréscimo que, segundo a Federação Espírita Brasileira (FEB), foi devido à não numeração de uma pergunta imediatamente após a 1010, que seria a 1011.

O livro reúne os ensinamentos dos Espíritos Superiores, por intermédio de diversos médiuns, revisados e organizados pelo professor Rivail, sob o pseudônimo de Allan Kardec.

Na introdução, destaca-se que “como especialidade, o Livro dos Espíritos contém a doutrina espírita; como generalidade, prende-se à doutrina espiritualista, uma de cujas fases apresenta. Essa a razão por que traz no cabeçalho do seu título as palavras: Filosofia espiritualista”.

Esta obra contém os princípios da Doutrina Espírita sobre a imortalidade da alma, a natureza dos Espíritos e suas relações com os homens, as Leis Morais, a vida presente, a vida futura e o porvir da humanidade.

Encerramos esta breve homenagem aos 165 anos do lançamento de “O Livro dos Espíritos”, considerado a primeira obra básica da Doutrina Espírita, com a observação dos insignes confrades Francisco Thiesen e Zêus Wantuil, na obra “Allan Kardec – O educador e o codificador”:

– “Quer em sua primeira, quer em sua segunda e definitiva edição, O livro dos espíritos é a compilação dos ensinos ditados pelos Espíritos Superiores e publicado por ordem deles. Segundo Kardec, nada contém que não seja a expressão do pensamento deles e que não lhes tenha sofrido o controle. Só a ordem e a distribuição metódica das matérias, assim como as notas e a forma de algumas partes da redação, constituem a obra daquele que recebeu a missão de o publicar.”

Por Moacir Wilson De Sá Ferreira

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Páscoa e Ressurreição em Cristo

A Páscoa é considerada a maior e mais antiga festa do Cristianismo, em cuja cronologia destacam-se a Sexta-Feira Santa, que marca o dia da crucificação, e o domingo, com a ressurreição do Mestre.

A “ressurreição de Jesus” é um importante marco para a Fé cristã.

Ressurreição nos remete à ideia do retorno de alguém à vida após a sua morte. No sentido literal, essa palavra carrega o significado de que esse alguém pudesse ressurgir, erguer-se ou levantar-se de entre os mortos.

Encontramos na Páscoa e, consequentemente, na “ressurreição de Jesus” uma riqueza de símbolos que nos convidam à reflexão.

Segundo estudiosos, a palavra Páscoa teria origem no latim Pascha, apropriada do grego Πάσχα (Páskha), por sua vez empréstimo direto do aramaico PasHâ, língua semítica descendente do hebraico.

Acredita-se que foi empregada originalmente para designar o festival judaico, conhecido como “Páscoa judaica”, em comemoração ao Êxodo, ou seja, a libertação dos hebreus da escravidão no Egito antigo e a jornada, liderada por Moisés, rumo à “Terra Prometida”.

Eis o primeiro simbolismo: a saída da escravidão do Egito para a liberdade da “Terra Prometida”, que pode ser entendida como a jornada evolutiva para realizar a nossa verdadeira essência, o “Divino” em nós.

Nesse simbolismo, haveria a “morte” do velho (escravidão) e o “renascimento” do novo (libertação).

Libertação da escravidão dos sentidos, das paixões, dos condicionamentos e das ilusões pelo renascimento em Cristo.

Um verdadeiro rito de passagem.

O simbolismo da Páscoa cristã, que celebra a ressurreição de Jesus ocorrida ao terceiro dia após sua crucificação no Calvário, surgiu nos primeiros anos da década de 50, do século I, na carta do apóstolo Paulo, escrevendo de Éfeso aos cristãos de Corinto (I Coríntios, Capítulo V):

– “Purificai o velho fermento, para que sejais uma nova massa, assim como sois sem fermento. Pois, na verdade, Cristo, que é nossa páscoa, foi imolado. Por isso celebremos a festa, não com o velho fermento, nem com o fermento da maldade e da malícia, mas com os asmos da sinceridade e da verdade.”

Esse simbolismo seria confirmado por Paulo em Efésios, 4:22-24:

– “Quanto à antiga maneira de viver, vocês foram ensinados a despir-se do velho homem, que se corrompe por desejos enganosos, a serem renovados no modo de pensar e a revestir-se do novo homem, criado para ser semelhante a Deus em justiça e em santidade provenientes da verdade.”

Eis o significado da ressurreição para nós, espíritas:

– Ressurgir em Cristo, purificar o velho fermento (“velho homem”) para ser nova massa (“novo homem”).

Páscoa significa uma nova maneira de viver sem ser corrompido por desejos enganosos, renovar-se no modo de pensar, recordando que “pensamento é vida” e, pela reforma íntima, revestir-se do novo homem.

Uma abençoada Páscoa e que possamos renascer em Cristo!

Por Moacir Wilson De Sá Ferreira

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A Religião do Exemplo

Era outubro de 1975. Comemorava-se o Dia do Professor na EsPCEx, onde cursava, como integrante da Turma Santos Dumont, o terceiro ano do curso colegial. Havia participado de forma bem-sucedida no concurso de redação em homenagem à data e em virtude disso fui convidado pelo Comandante da Escola, o então Coronel José Maria de Toledo Camargo, a participar do almoço comemorativo, com todos os professores e instrutores, no Salão Nobre. Mais ainda, fui distinguido com a deferência de sentar-me à mesa do Comandante, juntamente com o Decano dos professores, os oficiais mais antigos e os professores mais velhos.

Durante o almoço, surgiu à mesa o tema da diversidade dos grupos religiosos existentes na Escola, com a União Católica dos Militares, o Núcleo dos Alunos Evangélicos e o Núcleo dos Militares Espíritas, e sobre o que isso significava para a formação dos futuros oficiais.

A certa altura da conversa, nosso Comandante passou a relatar episódio ocorrido quando ele era cadete de Artilharia na AMAN, num dia em que seu pelotão se encontrava em uma sessão de instrução ministrada pelo então Tenente Jarbas Gonçalves Passarinho, instrutor do Curso.

Durante um intervalo, o Tenente permaneceu em sala a preparar o ambiente para o próximo tempo de instrução e ouviu um debate entre cadetes sobre religião: havia católicos, evangélicos, espíritas, umbandistas, ateus, cada um defendendo o seu próprio credo religioso ou a sua própria maneira de encarar a religião. O Tenente não interveio na conversa, mas quando a campainha sinalizou o término do intervalo e os cadetes retornaram à sala, ele fez uma breve alocução realçando a liberdade religiosa existente em nosso país, em obediência à nossa Constituição. Enfatizou o respeito que todos devemos nutrir pelas religiões dos companheiros, tendo sempre em conta que a liberdade de um termina onde começa a liberdade do outro.

Num certo momento, o Coronel Camargo, visivelmente emocionado com as lembranças que lhe vinham à mente, repetiu as palavras que ele ouvira do Tenente Jarbas Passarinho havia já cerca de trinta anos: “Nós, militares, temos a liberdade de praticar a religião que escolhermos ou até mesmo de não praticar nenhuma das religiões estabelecidas. Existe, porém, uma religião que todos nós, sem qualquer exceção, temos a obrigação de praticar: é a Religião do Exemplo.”

A lembrança daquele dia nunca me abandonou, associada sempre à imagem do Comandante sob cujas ordens tive a ventura de servir, como aluno, por dois preciosos anos. O Coronel Camargo foi sem dúvida o mais completo chefe e líder militar que tive o privilégio de conhecer, opinião essa compartilhada por muitos de meus colegas de turma. Sempre pautou suas atitudes pela ética. Com ele aprendemos os princípios que norteiam a nossa profissão. Com ele aprendemos a importância da integração do Exército com a sociedade. A Escola Preparatória, sob seu comando, passou a ser parte da cidade de Campinas e nós, alunos, passamos a nos considerar cidadãos campineiros. Mais tarde, já como oficial-general, continuou a nos proporcionar exemplos de coerência, desapego e fidelidade aos ideais que nos transmitira.

Desde então, tenho procurado seguir os ensinamentos recebidos do velho Comandante naquele memorável Dia do Professor de 1975, em que tive a honra de ler para uma plateia seleta o texto que havia escrito em homenagem a minha mãe, que fora, além de tudo, uma das minhas professoras no curso primário (as outras foram minhas duas irmãs mais velhas). Naquele momento memorável, pude perceber nitidamente a tomar forma em meu íntimo o alicerce que havia de nortear minha existência nos anos que se seguiriam: a base familiar associada ao trabalho educativo dos mestres e coroada pelo ensinamento dos chefes e instrutores, de modo a nos habilitar ao cumprimento do nosso dever, aconteça o que acontecer.

Este é um pequeno tributo a minha Mãe e a minhas Irmãs Professoras, um tributo a meus Comandantes, Professores e Instrutores, por terem me ensinado a praticar a Religião do Exemplo. Estejam onde estiverem, recebam meu testemunho de imperecível gratidão.

por Décio Luís Schons Cruzado 5418

fonte: O Espiritismo Consolador (sobrecoisaseloisas.blogspot.com)

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O Espiritismo Consolador

Cento e cinquenta e oito anos atrás, num mês de abril como o que estamos vivendo, o mundo recebia O Evangelho Segundo o Espiritismo, a terceira obra do Pentateuco Kardequiano, em sequência à publicação de O Livro dos Espíritos, em 1857, e de O Livro dos Médiuns, em 1861. Era um passo importante na trajetória do Codificador e na afirmação da Doutrina Espírita nascente como detentora de uma sólida base filosófica, ética e moral, amparada nos ensinamentos do Mestre Jesus Cristo.

Logo no prefácio do livro, O Espírito de Verdade, principal inspirador e orientador dos trabalhos de Kardec, dirige-nos comovedor chamamento ao trabalho e ao progresso espiritual: “Nós vos convidamos, a vós homens, para o divino concerto.” Era mais uma edição desse convite, que vem sendo renovado, através dos tempos, aos trabalhadores de boa vontade, para que transformemos nosso planeta em um mundo de menos atraso e menos sofrimento, mais progresso e mais alegrias.

Permitir-me-ei transcrever aqui o primeiro parágrafo da Introdução à obra, levado pela importância que essa passagem assume na motivação do estudo do Espiritismo: “Podem dividir-se em cinco partes as matérias contidas nos Evangelhos: os atos comuns da vida do Cristo; os milagres; as predições; as palavras que foram tomadas pela Igreja para fundamento de seus dogmas; e o ensino moral. As quatro primeiras têm sido objeto de controvérsias; a última, porém, conservou-se constantemente inatacável. Diante desse código divino, a própria incredulidade se curva. É terreno onde todos os cultos podem reunir-se, estandarte sob o qual podem todos colocar-se, quaisquer que sejam suas crenças, porquanto jamais ele constituiu matéria das disputas religiosas, que sempre e por toda a parte se originaram das questões dogmáticas. Aliás, se o discutissem, nele teriam as seitas encontrado sua própria condenação, visto que, na maioria, elas se agarram mais à parte mística do que à parte moral, que exige de cada um a reforma de si mesmo. Para os homens, em particular, constitui aquele código uma regra de proceder que abrange todas as circunstâncias da vida pública, o princípio básico de todas as relações sociais que se fundam na mais rigorosa justiça. É, finalmente e acima de tudo, o roteiro infalível para a felicidade vindoura, o levantamento de uma ponta do véu que nos oculta a vida futura. Essa parte é a que será objeto exclusivo desta obra.”

Ao delimitar claramente os limites da Doutrina no campo moral, afirmava o Codificador, de forma insofismável, a existência do aspecto religioso do Espiritismo, que vinha a se somar aos aspectos científico e filosófico já estabelecidos com clareza nas obras anteriores. Longe, porém, de enunciar promessas de salvação mediante a prática da fé cega ou de pregar o conformismo fatalista diante das circunstâncias da vida, o Codificador reafirma com clareza uma grande esperança, ou melhor, uma grande certeza: a de que a felicidade verdadeira e o progresso espiritual, da qual ela é decorrente, virão para cada um de nós a partir do nosso sucesso no esforço individual de autorreforma. Cada ser humano é responsável pelo próprio despertar para as realidades da Vida Maior e pelo seu necessário progresso espiritual. Ninguém poderá fazer o trabalho por mim, o que não me impede de receber o auxílio e a orientação dos Amigos encarnados e desencarnados.

Poderia ser antecipado já, nessas palavras de imorredouro significado, o sentido da frase atribuída a Teilhard de Chardin cerca de um século mais tarde: “Não somos seres humanos vivendo uma experiencia espiritual; somos seres espirituais vivendo uma experiência humana.”

No Brasil, a primeira agremiação espírita foi fundada no Rio de Janeiro, em 1873. Um de seus fundadores foi Joaquim Carlos Travassos, médico e linguista que traduziu o Evangelho Segundo o Espiritismo para o português em 1876. Outro tradutor muito conhecido das obras da Codificação, já no século XX, foi Luís Olímpio Guillon Ribeiro, também presidente da Federação Espírita Brasileira por cerca de quinze anos.

O Evangelho Segundo o Espiritismo é de longe a obra mais vendida e mais consultada do Pentateuco Espírita. Fonte de alívio e inspiração, é livro de cabeceira de quantos queiram manter a prática diária da oração, das boas vibrações e do exercício da caridade, sejam os leitores espíritas praticantes, sejam eles simplesmente simpatizantes da Doutrina Espírita.

Em seu capítulo VI, intitulado “O Cristo Consolador”, o Evangelho Segundo o Espiritismo identifica inequivocamente o Espiritismo como sendo o Consolador prometido por Jesus Cristo na seguinte passagem do Novo Testamento: “Se me amais, guardai os meus mandamentos; e Eu rogarei a meu Pai e Ele vos enviará outro Consolador, a fim de que fique eternamente convosco: O Espírito de Verdade, que o mundo não pode receber, porque o não vê e absolutamente o não conhece. Mas quanto a vós, conhecê-lo-eis, porque ficará convosco e estará em vós. Porém, o Consolador, que é o Santo Espírito, que meu Pai enviará em meu nome, vos ensinará todas as coisas e vos fará recordar tudo o que vos tenho dito.” (João, 14:15 a 17 e 26.)

Na sequência à citação evangélica, Allan Kardec esclarece a sua convicção na justeza da identificação proposta: “O Espiritismo mostra a causa dos sofrimentos nas existências anteriores e na destinação da Terra, onde o homem expia o seu passado. Mostra o objetivo dos sofrimentos, apontando-os como crises salutares que produzem a cura e como meio de depuração que garante a felicidade nas existências futuras… Assim, o Espiritismo realiza o que Jesus disse do Consolador Prometido: conhecimento das coisas, fazendo com que o homem saiba de onde vem, para onde vai e por que está na Terra; atrai para os verdadeiros princípios da Lei de Deus e consola pela fé e pela esperança.”

Que fique, portanto, registrada, neste mês de abril, ao insigne Professor Hippolyte Léon Denizard Rivail, cognominado Allan Kardec, a nossa gratidão por todo o corpo doutrinário legado às pessoas de boa vontade, em especial pela obra objeto destas simples reflexões (O Evangelho Segundo o Espiritismo) e que nos auxilia sobremaneira na busca de um sentido para esta nossa existência no planeta Terra.

por Décio Luís Schons Cruzado 5418

fonte: O Espiritismo Consolador (sobrecoisaseloisas.blogspot.com)

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Espiritismo e Profissão Militar na Visão de um Velho Soldado

Durante toda a sua vida, o militar se prepara e permanece aprestado para aquilo que ele menos deseja, mas que ele sabe, por dever de ofício, inevitável. Trata-se simplesmente do episódio mais doloroso na história dos povos: a guerra. Nessa ocasião ele deverá estar pronto a matar e disposto também a morrer em defesa de sua Pátria e de tudo que esse conceito tão amplo e sublime encerra em suas seis letras: as crenças, os princípios e valores – imateriais; o território, as estruturas físicas – materiais; e sobretudo os seres humanos integrantes dessa grande comunidade – seus compatriotas.

O grande paradoxo da profissão militar está no fato de a pessoa dedicar a existência a preparar-se para uma situação que repudia, desejando ardentemente que ela jamais ocorra, mas sabendo que, em última análise, sua plena realização profissional somente terá a chance de ser encontrada nos campos de batalha. Eis, em breves palavras, a essência daquilo que o grande escritor francês Alfred de Vigny abordou no clássico de sua autoria “Servidão e Grandeza Militares”. O título do livro já corporifica, de forma magistral, a essência da obra, dispersa ao longo das narrativas ali coligidas.

Ao ingressar na Instituição militar, quase meio século atrás, trazia comigo essas inquietações, advindas de meditações inspiradas pela leitura de livros retirados da biblioteca municipal de minha pequena cidade de Júlio de Castilhos, no Rio Grande do Sul, onde morava com minha família. Embora a profissão do soldado tivesse atrativos, dúvidas me assaltavam sobre como alguém poderia realizar-se profissionalmente a partir da pura e simples preparação para tomar parte em conflitos que acarretariam perdas de vidas humanas aos milhares.

Com o passar dos anos, os ensinamentos dos chefes, as leituras e os debates, dentro e fora das escolas militares, levaram-me a compreender a necessidade das instituições armadas como garantidoras dos bens mais sagrados e indispensáveis da Nacionalidade, quais sejam a integridade territorial, a autodeterminação e, como último recurso, a ordem interna – tudo isso para que os demais cidadãos possam viver suas vidas em paz, com suas famílias, na busca das realizações que terminam por dar sentido à existência do ser humano.

Não obstante esse entendimento, havia ainda algo de natureza mais profunda a me inquietar. Oriundo de família católica, batizado e crismado, não compreendia como, mesmo com todas as justificativas e motivações, pudesse ser lícito a um ser humano tirar a vida de outro, mesmo que fosse em uma situação de conflito.

A Doutrina Espírita, com a qual tivera contato logo após ingressar na Escola Preparatória de Cadetes do Exército, veio aos poucos trazer-me o entendimento das razões que levam alguns de nós a assumir a missão de velar pelo bem da coletividade, dispondo-nos a sacrificar não só a própria vida – o que por si só já seria muito grave – mas oferecendo-nos para contrair uma dívida pesadíssima, ou seja, aquela resultante do ato de tirar a vida de nossos semelhantes.

A realidade da reencarnação e o conhecimento da lei de ação e reação lançaram luz sobre o tema, fazendo-me entender que o mal praticado, mesmo sob a justificativa de evitar mal maior, sempre poderá e deverá ser resgatado, seja nesta reencarnação, seja em reencarnações posteriores, seja pelo amor, seja pela dor.

O passar dos anos teve um efeito consolidador sobre as convicções adquiridas na juventude, sem contudo gerar em mim o fanatismo característico daqueles que se consideram iluminados pela verdade única e imutável. Prossegui na carreira, imerso no cumprimento do dever para com a Pátria e a sociedade, sem descuidar da família que tive a ventura de constituir. Os dias passaram céleres, os anos se enfileiraram, quase meio século transcorreu. O destino poupou-me de participar de guerras como parte de um dos lados em conflito, embora tenha tido a oportunidade de ver algumas delas de perto na qualidade de mediador.

Hoje, ao olhar para trás e perceber a senda percorrida como soldado cristão espírita, meu coração se enche de um sentimento da mais pura gratidão por tudo que tive a oportunidade de aprender e de praticar, cumprindo sempre, como soldado, o meu dever, acontecesse o que acontecesse.

Já na reserva, não considero a missão como tendo sido esgotada. A Cruzada dos Militares Espíritas precisa de nós, soldados espíritas da ativa e da reserva, para que ela possa atingir os objetivos visualizados pelos fundadores e seus continuadores, desde a década de 1940.

Mãos à obra, portanto. Além do horizonte, a estrada continua…

por Décio Luís Schons Cruzado 5418

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Articulista

Nesta data, em 1944, um pequeno grupo de militares espíritas achava-se reunido e conversavam sobre o recente restabelecimento da Capelania militar,extinta quando da proclamação da República, ante iminência de nosso envolvimento com a segunda guerra mundial. Foi lembrada então a necessidade de se oferecer aos militares que professassem o Espiritismo a oportunidade e as condições para a prática de sua crença com a criação de uma entidade voltada para esse objetivo. À adesão a essa proposta foi unânime e em reunião posterior desses companheiros – em Fev/45 – foi decidida a criação da Cruzada, considerando o dia da primeira reunião em 10/Dez/1944 como a data de sua fundação de vez que assinalava a chegada da ideia ao plano material. Depois o trabalho… 77 anos de idealismo e ação constante na busca desse nobre objetivo. Nosso agradecimento a Jesus, Mestre inconfundível de nossas vidas e a Maurício, seu discípulo fiel e orientador de nosso trabalho. Paz e reflexão.

por José Lucas de Silva Cruzado 6294

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Sentimento de cumprimento do dever confere segurança e alegria ao ser humano

Buscai primeiramente o Reino de Deus e a sua justiça, que todas essas coisas vos serão dadas de acréscimo. (Mateus, 6:33)

            O texto evangélico é sempre precioso manancial para reflexão.

            No versículo acima, o convite “Buscai primeiramente o Reino de Deus e a sua justiça” merece reflexão. Não se apregoa uma vida mística, ascética, mas a sabedoria em traduzir-se as premissas evangélicas para os casos práticos da vida comum. Entendermos nosso dever no mundo perante Deus e os nossos semelhantes. Esse sentimento de dever, compreendido e aceito, confere ao ser humano segurança e rumo. Norteia-nos os passos e permite felicidade ao longo do caminho.

            É oportuna aqui a reflexão de Sêneca, filósofo romano, de que “Não há vento favorável a quem não sabe aonde deseja ir”.

            Vemos, em aglomerações populares, inúmeras pessoas a buscar significado e satisfação em coisas que nunca os poderiam oferecer. Poses simulando importância pessoal, vestes extravagantes, posse de objetos sofisticados; ruidosa música, como a buscar ensurdecer o indivíduo ante a voz da própria consciência. Tudo isso a refletir insegurança e desorientação.

            A segurança do ser humano vem do sentimento de cumprimento do próprio dever.

            Alcione, protagonista do romance Renúncia, de Emmanuel, discorre com rara beleza: “Aprendi cruelmente que não pode haver paz fora do dever cumprido; que não há alegria sem aprovação da consciência tranquila.”

            O ser humano desfruta de crescente liberdade para fazer escolhas. Mas como saber se estamos no rumo certo?

            O rumo certo é aquele que nos dita a consciência à luz do Evangelho.

            O Evangelho não é uma cartilha distante para horas de meditação. É manual de conduta vivo, impressionantemente completo e que nos permite a todos identificar o feliz caminho da consciência tranquila pelo dever cumprido.

            Não nos recomenda a indiferença que degrada, nem o rigor que excede. Recomenda-nos o Reino de Deus e a sua justiça. O reto proceder. O interesse sincero por aqueles que a vida nos confiou para convívio e aprendizado conjunto.

            Se temos autoridade, utilizemo-la para educar e soerguer.

            Acompanhamos, certa feita, o caso de um tenente que precisou advertir um soldado em razão de seguidas transgressões de preceitos regulamentares. Como não se tratasse de transgressão grave, antes de punir o subordinado com a privação da liberdade, buscou o oficial admoestá-lo; tocar-lhe os brios. Usou palavras firmes, lembrou-lhe do dever de honrar o nome de seus pais…

            Foi quando o oficial escutou uma resposta que jamais esperaria.

            – Pai… mãe… Nunca tive. Fui criado na FEBEM.

            O tenente olhou fundo nos olhos do subordinado e disse-lhe:

            – Se você não teve quem lhe deixasse esse legado, deixe você a seus filhos no futuro um nome do qual possam orgulhar-se. Honre o seu próprio nome.

            Desta vez, foi o soldado que olhou firme e respondeu:

            – Tenente, o senhor nunca mais terá que me chamar à atenção.

            O soldado mudou seu proceder. Tornou-se mais alegre e benquisto, cumprindo melhor seus deveres.

            O mesmo princípio se aplica à nossa vida familiar. Temos que educar nossos filhos para que compreendam seu dever e encontrem a felicidade na sua realização, mesmo que a sanção seja necessária, como contextualiza Casimiro Cunha em belos versos:

            “Castiga amando o teu filho

            Em teu carinho profundo.

            Prefere o teu próprio ensino

            Às tristes lições do mundo.”

            (Livro Mãe, Texto Carta às Mães, Casimiro Cunha)

            Amar não é poupar; é conduzir ao cumprimento do dever, à felicidade de consciência.

            Os livros espíritas relatam casos de mães que pedem pela chance de retornar e poder reeducar os filhos que deseducaram em vidas pregressas por excesso de leniência.

            Amar é educar, transmitir valores.

            Em 1987, numa palestra sobre Ética, proferida na Academia Militar das Agulhas Negras, o então Tenente-coronel Newton Bonumá dos Santos, dileto amigo, já desencarnado, fez a pergunta a seguir:

            – Em minha vida militar sempre ouvi a recomendação de transmitir-se valores aos jovens. É realmente possível passar valores a quem não os tenha? Pode-se transmitir uma virtude a quem não a possua?

            O eminente conferencista, Doutor em Filosofia e convidado de honra em inúmeros congressos pelo mundo, um senhor de cabelos brancos, sorriu como quem ouve a melhor pergunta do debate e respondeu:

            – Sim, meu amigo. Tendo esses valores dentro de nós. Mas não basta ter um pouco. Deve-se tê-los em tão grande quantidade, em tamanha profusão, que transbordem de nós. Quando transbordarem, serão transmissíveis.

            Nosso Chico transbordava valores e, mesmo assim, não era poupado por Emmanuel.

            Estando, em determinada ocasião, com hemorragia no olho esquerdo, que apresentou problemas praticamente por toda a sua existência na Terra, ficou de cama quatro dias. Emmanuel o visitou e energicamente assim se expressou: “Que é isso, vamos trabalhar! Ter dois olhos é luxo; você tem o outro em boas condições.” Levantou-se depressa o Chico e seguiu o conselho do seu Mentor. (“Entender Conversando”, Editora IDE, 1ª ed., página 141)

            Busquemos primeiramente o Reino de Deus e a sua justiça, e não nos faltarão forças e paz de espírito para que nossa vida seja feliz.

            Não que seja fácil. Não será fácil. Será possível!

            Como nos ensina o apóstolo Paulo em Filipenses 4:

            “Tudo posso naquele que me fortalece.

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por José Fernando Iasbech

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