Sentimento de cumprimento do dever confere segurança e alegria ao ser humano

Buscai primeiramente o Reino de Deus e a sua justiça, que todas essas coisas vos serão dadas de acréscimo. (Mateus, 6:33)

            O texto evangélico é sempre precioso manancial para reflexão.

            No versículo acima, o convite “Buscai primeiramente o Reino de Deus e a sua justiça” merece reflexão. Não se apregoa uma vida mística, ascética, mas a sabedoria em traduzir-se as premissas evangélicas para os casos práticos da vida comum. Entendermos nosso dever no mundo perante Deus e os nossos semelhantes. Esse sentimento de dever, compreendido e aceito, confere ao ser humano segurança e rumo. Norteia-nos os passos e permite felicidade ao longo do caminho.

            É oportuna aqui a reflexão de Sêneca, filósofo romano, de que “Não há vento favorável a quem não sabe aonde deseja ir”.

            Vemos, em aglomerações populares, inúmeras pessoas a buscar significado e satisfação em coisas que nunca os poderiam oferecer. Poses simulando importância pessoal, vestes extravagantes, posse de objetos sofisticados; ruidosa música, como a buscar ensurdecer o indivíduo ante a voz da própria consciência. Tudo isso a refletir insegurança e desorientação.

            A segurança do ser humano vem do sentimento de cumprimento do próprio dever.

            Alcione, protagonista do romance Renúncia, de Emmanuel, discorre com rara beleza: “Aprendi cruelmente que não pode haver paz fora do dever cumprido; que não há alegria sem aprovação da consciência tranquila.”

            O ser humano desfruta de crescente liberdade para fazer escolhas. Mas como saber se estamos no rumo certo?

            O rumo certo é aquele que nos dita a consciência à luz do Evangelho.

            O Evangelho não é uma cartilha distante para horas de meditação. É manual de conduta vivo, impressionantemente completo e que nos permite a todos identificar o feliz caminho da consciência tranquila pelo dever cumprido.

            Não nos recomenda a indiferença que degrada, nem o rigor que excede. Recomenda-nos o Reino de Deus e a sua justiça. O reto proceder. O interesse sincero por aqueles que a vida nos confiou para convívio e aprendizado conjunto.

            Se temos autoridade, utilizemo-la para educar e soerguer.

            Acompanhamos, certa feita, o caso de um tenente que precisou advertir um soldado em razão de seguidas transgressões de preceitos regulamentares. Como não se tratasse de transgressão grave, antes de punir o subordinado com a privação da liberdade, buscou o oficial admoestá-lo; tocar-lhe os brios. Usou palavras firmes, lembrou-lhe do dever de honrar o nome de seus pais…

            Foi quando o oficial escutou uma resposta que jamais esperaria.

            – Pai… mãe… Nunca tive. Fui criado na FEBEM.

            O tenente olhou fundo nos olhos do subordinado e disse-lhe:

            – Se você não teve quem lhe deixasse esse legado, deixe você a seus filhos no futuro um nome do qual possam orgulhar-se. Honre o seu próprio nome.

            Desta vez, foi o soldado que olhou firme e respondeu:

            – Tenente, o senhor nunca mais terá que me chamar à atenção.

            O soldado mudou seu proceder. Tornou-se mais alegre e benquisto, cumprindo melhor seus deveres.

            O mesmo princípio se aplica à nossa vida familiar. Temos que educar nossos filhos para que compreendam seu dever e encontrem a felicidade na sua realização, mesmo que a sanção seja necessária, como contextualiza Casimiro Cunha em belos versos:

            “Castiga amando o teu filho

            Em teu carinho profundo.

            Prefere o teu próprio ensino

            Às tristes lições do mundo.”

            (Livro Mãe, Texto Carta às Mães, Casimiro Cunha)

            Amar não é poupar; é conduzir ao cumprimento do dever, à felicidade de consciência.

            Os livros espíritas relatam casos de mães que pedem pela chance de retornar e poder reeducar os filhos que deseducaram em vidas pregressas por excesso de leniência.

            Amar é educar, transmitir valores.

            Em 1987, numa palestra sobre Ética, proferida na Academia Militar das Agulhas Negras, o então Tenente-coronel Newton Bonumá dos Santos, dileto amigo, já desencarnado, fez a pergunta a seguir:

            – Em minha vida militar sempre ouvi a recomendação de transmitir-se valores aos jovens. É realmente possível passar valores a quem não os tenha? Pode-se transmitir uma virtude a quem não a possua?

            O eminente conferencista, Doutor em Filosofia e convidado de honra em inúmeros congressos pelo mundo, um senhor de cabelos brancos, sorriu como quem ouve a melhor pergunta do debate e respondeu:

            – Sim, meu amigo. Tendo esses valores dentro de nós. Mas não basta ter um pouco. Deve-se tê-los em tão grande quantidade, em tamanha profusão, que transbordem de nós. Quando transbordarem, serão transmissíveis.

            Nosso Chico transbordava valores e, mesmo assim, não era poupado por Emmanuel.

            Estando, em determinada ocasião, com hemorragia no olho esquerdo, que apresentou problemas praticamente por toda a sua existência na Terra, ficou de cama quatro dias. Emmanuel o visitou e energicamente assim se expressou: “Que é isso, vamos trabalhar! Ter dois olhos é luxo; você tem o outro em boas condições.” Levantou-se depressa o Chico e seguiu o conselho do seu Mentor. (“Entender Conversando”, Editora IDE, 1ª ed., página 141)

            Busquemos primeiramente o Reino de Deus e a sua justiça, e não nos faltarão forças e paz de espírito para que nossa vida seja feliz.

            Não que seja fácil. Não será fácil. Será possível!

            Como nos ensina o apóstolo Paulo em Filipenses 4:

            “Tudo posso naquele que me fortalece.

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por José Fernando Iasbech

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